segunda-feira, 13 de julho de 2020

De repente um nó na garganta
Aqui tem tanta coisa guardada
A vontade é de mudar o mundo 
Mas nem minha raiva tá controlada

Nem minhas contas estão pagas 
Minha sanidade tá cambaleando
Corda bamba entre a fé e a revolta 
Com um Deus que não tá ajudando

Deus tá quieto, só observando 
A humanidade toda aqui se matar
Uns dormem em berço de ouro
Enquanto outros não tem nem o jantar 

Mas que raiva que me dá 
Dessa gente que não dá pra chamar de gente 
Mais cruéis e perversos não há 
Predadores com carne preta entre os dentes

A vontade é logo de surtar 
Soltar os gritos presos no peito
Mas me diz, quem é que vai me escutar?
Se o sistema existe há tempos desse jeito?

Quantos prefeitos vamos ter que trocar 
Pra parar de jogar merda na Lagoa?
Quantas árvores vamos ter que derrubar?
Quanto bicho ainda vai morrer à toa?

Isso tudo não é por acaso
É um projeto muito bem arquitetado
Baseado na opressão e no descaso
Genocídio sob ordem do Estado

PM executa a missão dada
De exterminar e fazer o descarte
Restos da ditadura inacabada
Que o bozo tá apertando o restart 

Mas tudo isso faz parte 
É só ler os livros de história
Povo que não conhece seu passado
Tá fadado a reviver sua escória

E agora, a gente chora?
Quem é que vai ouvir o clamor?
De um povo que sonha com a hora
Em que não sentirá mais a dor.

Lá se vai mais um João
Vítima da necropolitica
Ele era só mais um cidadão
Que dos dados virou estatística 

Mas apesar de todo o pesar
De ser o lado que descarregam o pente
A covardia pertence ao lado de lá 
Do lado de cá Marielle presente 

O povo não se deixa abalar
Luta e reluta pela sobrevivência 
Resistir em primeiro lugar
Fazer valer seu direito a existência

Essa Terra é de índio e de preto
É dos bichos e das entidades
E apesar de todo o esforço 
Vão precisar se empenhar com vontade

Pra conseguir acabar com essa gente 
Vão ter que muito ainda suar
Em cada um foi plantada a semente 
E logo o povo vai se juntar 

É bom vocês ficarem com medo
Porque o povo cansou de apanhar
Nossa força já não é mais segredo
Seja bem vinda revolução popular!



Do pranto fez-se o canto,
Da voz saiu a essência,
Falo muito, mas calo tanto,
Palavras em abstinência.

Palavras perdidas dentro de mim
Por medo de serem faladas
Em um rompante explodem, enfim
Cansadas de conversa fiada.

Fiar, tecer o que se sente
O fio da vida a se emaranhar
Nas formas da teia da mente.

O presente é o que importa
Passado é janela emperrada
Futuro é a esperança que aporta
No cais de uma nova jornada.

Ciclos são a nossa única certeza
Fase que encerra pra outra começar
Em cada uma existe a singular beleza
Entre o recomeço e o desabrochar.

Fácil ninguém disse que seria
Mas o processo se faz necessário
Montanha-russa de tristeza e alegria
Dessa vida sou apenas o operário.

Ergo as paredes, parte por parte
Com o material que o destino me cede
Dos apegos, aos poucos, faço o descarte
E aqui dentro ouço a voz que me pede

 "Descobre menina, qual é o teu lugar,
Tens tanto a fazer nessa Terra
O caminho tá aberto pra vc passar
E encarar de frente essa guerra."

Guerra externa reflete a batalha interna,
Meus inimigos estão dentro de mim
Eles lutam pra saber quem governa
Mas sou eu quem governa, enfim.

Sou o self por trás do personagem
Mergulhado em um mundo dual
Em meio aos formatos da imagem
Da minha mandala sou o ponto central.